viernes, 20 de noviembre de 2020

Reportaje a Contramestre Grafitt "La capoeira como ideología de vida".

A gente quando é criança começa pelo simples fato de brincar.  Mais quando você começa a madurecer, já tem a capoeira como ideologia de vida”.

 

En el marco de la celebración por el Día de la Conciencia Negra (2015), el núcleo TMA Rosario invitó a este capoeirista notable de la célebre Roda de Caxias, de Rio de Janeiro, Brasil. Vino para brindarnos valiosos conocimientos y experiencia a través de entrenamientos y rodas. Con él conversamos para esta publicación. Y como fiel reflejo del diálogo mantenido decidimos transcribir nuestras preguntas en español y sus respuestas en portugués do Brasil original.

 

• Empleado en la industria metalúrgica Carlos Alberto Sacramento, alias Graffit, pudo combinar trabajo con pasión. Como quien dice dinero y amor. Ejemplo de esfuerzo y perseverancia, en 2007 su entonces maestro, Mestre Russo (grupo Cosmos, RJ) le entregó un merecido reconocimiento de Contramestre. En esa ocasión también obtuvieron ese laudo sus camaradas conocidos con el nombre de Urso y Gato Félix. Desde entonces Contramestres Urso y Gato Félix. Quienes deseen más información pueden encontrarla en el libro Capoeiragem, Expressões da Roda Livre de Mestre Russo de Caxias o bien en el film documental O Zelador.

¿Por qué el sobrenombre Graffit?

O Mestre Russo desenhava com grafite, ele fazia caricatura.  E na época eu era novo ainda e gostava de fazer também. Por isso ele botou esse apelido. (NR: en referencia a la marca de lápices y marcadores Graffit).

¿Cómo fueron tus comienzos?

Eu comecei a fazer capoeira com doze para treze anos de idade.

¿Por recomendación de alguien o por propio interés?

A primeira vez que eu vi capoeira foi próximo ao meu bairro, lá na rua, mais era capoeira regional. Eu vi e eu fiquei encantado com esse som do berimbau, com a movimentação. E eu tinha uns amigos do bairro que já estavam praticando. Aí foi quando a gente descobriu que tinha um mestre de capoeira lá, em nosso bairro. A gente foi procurar ele.  Então ele começou a dar aulas para a gente e fundou o grupo Cosmos (se refiere a Mestre Russo).

A gente treinou com o mestre um ou dois anos antes de fundar o grupo, acho que foi em 1994. E o grupo foi fundado em 1996. Hoje eu estou no grupo Unificar com Mestre Peixe.

¿Aquella capoeira que conociste guarda similitudes con la capoeira como la conocemos hoy?

A capoeira de quando eu começei ainda permanece em mim. Mas a capoeira é mutante, ela está em constante mutação e aí que vai evoluindo, vai mudando.

¿Qué buscabas entonces? ¿Qué aspectos de este arte llamaron tu atención?

A gente quando é criança começa pelo simples fato de brincar.  Mas quando você começa a madurecer, já tem a capoeira como ideologia de vida.

¿Y tu familia? ¿Cómo tomaron tu decisión de practicar capoeira en esa época?

Em aquele tempo era mais complicado (risas)...Eu era muito novinho e minha mãe tinha a maior preocupação. Meu pai, nessa época já tinha falecido. Foi aí que eu procurei a capoeira.  Aí me apeguei, na verdade...sim, depois da morte do meu pai. Me apeguei muito na capoeira. E minha mãe tinha a maior preocupação, porque ela começou a fazer a função de mãe e pai. Ela tinha medo de eu estar fazendo luta, não sabia com quem era. No início meio que proibiu fazê-la. “Não vai fazer, esse negócio é perigoso. Vai se machucar, você pode cair, se quebrar”. Ela não queria, então eu comecei a fazer escondido (risas).  Para essa época já tinha procurado o Mestre Russo. Nem ele sabia, nem minha mãe. (risas) Até faltei na escola para ir treinar capoeira. Minha mãe descobriu e aí foi a família toda procurar onde eu estava treinando capoeira. Ela viu os meninos: viu o Gato, Cigano, o Moreno, a turma que fazia capoeira comigo, saindo do treino, indo embora, e lhes perguntaram. “Ele está lá na capoeira ainda, está vindo aí. ” Foi no meio do caminho que eu me encontrei com minha família, que me falou: “você está proibido de ir a partir de hoje. Você não vai mais. Só porque você escondeu isso para a gente. Aí eu insisti, insisti, e continuei escondido (risas que perduran).

Um dia não teve mais jeito, e eu conversei com o Mestre Russo. Ele falou: “vamos lá, eu quero conhecer a sua família, mostrar para eles que este é um ambiente familiar também. Que não tem perigo nenhum. Então ele foi e conheceu minha mãe. Ela simpatizou muito com ele, gostou muito.  Assim ela deixou eu participar. Mais tarde, até ela mesma participou nos eventos que acontecia lá na casa de ele. Foi muito legal. (NR: los entrenamientos eran en la casa del mestre, vivienda familiar y escuela de capoeira coincidían).

¿Cuál era el barrio?

São José o Parque São José. Duque de Caxias.

¿Escuchaste hablar de nuestro maestro o del TMA?

Quando eu comecei a treinar capoeira com o Mestre Russo ele preparava a gente para dar continuidade a história da Roda de Caxias, ne. Aí ele sempre passou para a gente quais eram as nossas referencias na capoeira, quem eram exatamente esses mestres os que começaram essa história lá. Ele falava muito do Mestre Pedrinho, do Mestre Rogério, do Mestre Jurandir e de todos os outros. A gente procurava saber a história de cada um de esses mestres.

¿Qué habías escuchado puntualmente de nuestro maestro, M. Pedrinho?

Ele não tinha muito contato com o Mestre Russo. Eles se escreviam cartas. E o Mestre mostrava para nós. Tudo mais.

O primeiro contato que a gente teve com o Mestre Pedrinho foi direto na roda. Certa vez que o Mestre estava chegando de viagem, eu acho. Essa história que eu já contei...

Contala de nuevo, no seas malo. Por favor.

Bom. Era um dia que a gente estava na maior animação. Porque todos os mestres da Roda tinham viajado e deixado a roda na nossa mão. E a gente era muito novo. Todos garotos... E a gente muito feliz de ter essa responsabilidade... Só tinha garotada, não tinha nenhum dos veteranos lá. E aí que chegou o Mestre Pedrinho, todo alinhado, com chapeuzão (sombrero grande) na cabeça. Só que ninguém conhecia ele. E de aqui a pouco ele deu um Iê! No meio da roda. E falou: Já que ninguém me apresenta, eu vou me apresentar; ¡Sou o Mestre Pedrinho de Caxias e agora quem vai jogar sou eu!

A gente ficou todo mundo “assim”, pensando, que vacilo... E aí foi muito legal, o mestre jogou com toda a rapaziada, deu uma lição na gente e foi realmente muito massa. Esse foi o primeiro contato com o Mestre. Foi muito legal que não teve intervenção de mestre nenhum.

Volviendo a la práctica en los comienzos, ¿cómo era la Roda de Caxias cuando la conociste?

Era totalmente diferente dos dias de hoje. Naquela época era só veteranos, não tinha ninguém da nossa idade. Eram só os mestres ou os caras bem antigos, com 30, 40 anos de capoeira. E a gente todos novinhos, com 15 anos de idade.

Quando a gente começou a ir para a roda, íamos só para carregar os instrumentos, afina-los e tocar para os mestres jogar, a gente nem jogava. Só assistíamos os mestres jogando. No final da roda a gente levava os instrumentos para guardar. A gente ficava nessa função de zelar pelos instrumentos. Hoje em dia, a gente já tem uma relação de parceria com os mestres lá. Os mestres têm total confiança na gente. Hoje eles falam que podem viajar tranquilos, sabendo que a gente toma conta da roda. A relação é de confiança, de irmandade.

O que amadureceu muito a minha visão com relação a capoeira hoje é (lembrar) a relação que eles tinham, indiferentemente dos grupos onde eles estavam, eles eram muito irmãos, um defendia ao outro. Eles podiam até brigar entre eles, mas nunca admitiam que alguém de fora falasse mal de um deles. Eu achava isso muito bonito. Eles sempre contavam histórias de quando começaram e falavam sempre com muito orgulho.

¿Por qué crees que tantos capoeiristas se han interesado por esta roda, especialmente los angoleiros?

A roda de Caxias é uma roda de rua. Ela nunca foi definida como de “Capoeira Angola” ou “Regional”. Os mestres começaram sem essa proposta. Eles mesmos falam que nem sabiam o que ia acontecer para frente, simplesmente resolveram tomar a iniciativa de fazer a coisa acontecer. Inclusive o Mestre Angolinha certa vez conversando com o Mestre Peixe... (aclara -em outra época, eu nem participava, acho que eu nem era nascido ainda-). (Risas).

(Dijo Peixe) “Se cada um de nós aqui fizer um aluno a roda de Caxias não vai morrer jamais”. É engraçado... foi o que aconteceu. Hoje a roda de Caxias não é realizada pelo grupo Unificar, nem pelo grupo Cosmos, nem pelo T.M.A., não é o grupo do Mestre Angolinha, não é pela FICA, não é pelo Angola Dobrada. A roda acontece mas tem a participação de todos esses alunos, de esses grupos que vieram de esses mestres. Contramestre Serrote (T.M.A.) está lá, tem o Japa, que é um parceiro de muitos anos lá. Dentro da roda é o cara que me apoia, ajuda muito com a roda. O Alder que vem da FICA que treinou por sua vez com outros mestres que tiveram história dentro da roda de Caxias e vários outros: o Célio (estre Urubu) que é de uma geração bem antes da minha. Quando eu cheguei, ele já frequentava a roda há muito tempo. Por sua vez os alunos dele também frequentam a roda...

¿Cómo la caracterizarías entonces?

Eu vejo ela como uma roda de Capoeira Angola porque é feita por angoleiros: todos os fundamentos que tem dentro da roda de Capoeira são da Capoeira Angola. Só que ela não teve essa definição porque veio da capoeira de rua. Mas tem todos os fundamentos da Capoeira Angola…

En tu estilo actual de juego encontramos elegancia y eficiencia. Queríamos preguntarte por la capoeira más antigua que llegaste a conocer; ¿Poseía esas mismas cualidades?

Era bem mais forte. Tinha a sua elegância mais nem tanto. Era mais cobrado mesmo, mais marcial. Hoje em dia não. Até porque naquela época os capoeiristas tinham outra visão. Muitos iam na roda de Caxias para tentar acabar com a roda. Eles tinham todas as artimanhas para quebrar a onda dessa galera que chegava. Botava bastão dentro do atabaque, facão...

Da época de Arte e Feitiço. Quando a gente chegou, essa geração mais nova a roda já não estava tanto assim. A galera já respeitava mais, a roda já tinha certa fama de grandes capoeiristas e os capoeiristas iam lá dispostos a vadiar mesmo. De vez em quando aparecia um ou outro com vontade de se testar. Aí sobrava para a gente. Hoje é bem mais tranquilo. De vez em quando aparece alguma alma penada lá - (Risas)-, com a ideia de arrumar problema, mas aí a gente tira da roda e pronto.

¿Práctica de capoeira como vadiação y mundo laboral se pueden conciliar?

Essa história de conciliar trabalho com a capoeira e estudo hoje é bem mais tranquilo. Hoje a gente consegue fazer isso. Mas isso é graças a esses mestres; eles fizeram muito para a gente estar fazendo a capoeira como a gente faz. Se hoje eu viajo, eu posso estar aqui com vocês, é graças a esses mestres que batalharam muito e levaram o nome de Caxias pelo mundo. Na época de eles, nem todos tiveram as mesmas oportunidades. Lá em Caxias era muito duro sobreviver.

¿Pasó un tiempo hasta que pudiste participar de la roda?

Como eu falei, a gente no início só treinava. O mestre não deixava sair para as rodas. Roda que a gente participava era dentro do grupo mesmo. Nós éramos bem novinhos... “Vocês não estão preparados ainda não. Roda na rua não é fácil do jeito que vocês estão pensando, não”. E aí a gente foi treinando, buscando; começamos a ganhar a confiança dele; até que um dia o Mestre Russo falou: “vamos para a rua. Vamos fazer capoeira na rua. ” E aí começou a levar a gente para a Roda de Caxias e tal. Mas até então a gente não jogava, não podia jogar, só tocava e assim, as coisas foram começando aos poucos: aprendendo a afinar o berimbau do jeito que o Mestre Peixe queria, porque ele era o zelador da bateria da roda de Caxias. E a gente ficava tomando orientação com ele. E aí a gente foi amadurecendo, aos poucos conquistando a confiança do mestre, e o mestre ia liberando a gente – “vá lá, joga lá” (ejemplifica) E a gente ia, jogava um pouquinho, tal, saia. Depois ele chamava de novo: “vai lá, joga com fulano”. Ele foi vendo que a gente podia até que um dia chegou e falou assim: “Agora vou ficar chamando vocês o tempo todo para jogar, vocês têm que ir. ” A gente sentiu que ele já tinha liberado para jogar na roda. E automaticamente com isso começaram as cobranças de responsabilidade e compromisso com a roda.

Quisiéramos preguntarte ahora por la organización del evento “Roda Livre de Caxias: 40 anos”, que se realizó en 2013 y del cual fuiste uno de sus principales impulsores…

Na organização ficou a Camila, o Guilherme, aluno do Mestre Célio e o Felipe, aluno do Mestre Dois Cruzeiros do grupo Casarão e eu. A gente ficou direto nessa organização antes do evento. Durante todo o evento teve vários outros alunos de outros grupos que participaram, colaboraram, ajudaram muito.

¿Con cuánto tiempo de anticipación debieron prepararlo?

Na verdade, a ideia de fazer esse evento dos 40 Anos já tinha surgido com pouco mais de dois anos antes. No evento do Grupo Angola Dobrada em Belo Horizonte. Estavam a maioria dos mestres, todos reunidos e aí a gente já tinha conversado com eles em particular. Mas dentro desse encontro foi que começamos a trabalhar no projeto. Eu larguei meu trabalho por um ano; fiquei um ano só trabalhando em isso junto a Camila na organização para o evento acontecer.

¿Por qué? ¿Qué era lo que había que hacer?

Apoio, espaço; como a gente ia a conseguir grana para movimentar um evento desse porte, trazer os mestres. O evento já estava certo para acontecer, já tinha data, aí a gente foi buscando apoio, parcerias com as instituições como Prefeitura.

Quienes participaron quedaron muy felices…

Muito, muito. O rapaz que nos ajudou muito é subsecretario de Cultura de Caxias. Ele é super envolvido com a cultura mesmo. Lá é um cara muito bacana, amigo meu e do mestre Russo e de muita gente de lá de Caxias. A Prefeitura não passa verba para a Cultura, lá e muito triste a gente ver isso. E, poxa, a roda de Caxias com o peso que tem, a Secretaria de Cultura não deu apoio que fazia falta. Foi feito com a resistência mesma dos capoeiristas.

Muchas gracias por venir y compartir tu experiencia con nosotros. ¿Amateur o profesional? ¿Qué crees que debe ser el capoeirista?

Professional sim. Mas o dinheiro não pode estar no primeiro lugar. Eu acho que a gente tem que dar valor a capoeira sim. A capoeira tem que ser uma coisa professional e tem que ser valorizada. Isso tem que vir de cima, das instituições. Pois é a cultura de um povo que sofreu muito.

Hoje o Estado faz o comercial dela, divulga ela pelo mundo mais não dá o valor devido a ela. Entre a gente a coisa tem que permanecer assim. Esse carinho, esse respeito um pelo outro, essa coisa de família. Eu fiquei muito admirado com a relação de vocês aqui; é muito parecido a que eu tenho lá com meus irmãos de capoeira. Só tenho que agradecer vocês por estar aqui.•

 

Reportaje: Melina, Chino, Ginés, Luana y Pablo Saci.

Edición: Luana y Pablo Saci.