En el marco
de la celebración por el Día de la Conciencia Negra (2015), el núcleo TMA Rosario
invitó a este capoeirista notable de la célebre Roda de Caxias, de Rio de
Janeiro, Brasil. Vino para brindarnos valiosos conocimientos y experiencia a
través de entrenamientos y rodas. Con él conversamos para esta publicación. Y
como fiel reflejo del diálogo mantenido decidimos transcribir nuestras preguntas
en español y sus respuestas en portugués do
Brasil original.
• Empleado
en la industria metalúrgica Carlos Alberto Sacramento, alias Graffit, pudo
combinar trabajo con pasión. Como quien dice dinero y amor. Ejemplo de esfuerzo
y perseverancia, en 2007 su entonces maestro, Mestre Russo (grupo Cosmos, RJ)
le entregó un merecido reconocimiento de Contramestre. En esa ocasión también
obtuvieron ese laudo sus camaradas conocidos con el nombre de Urso y Gato
Félix. Desde entonces Contramestres Urso y Gato Félix. Quienes deseen más
información pueden encontrarla en el libro Capoeiragem,
Expressões da Roda Livre de Mestre Russo de Caxias o bien en el film documental
O Zelador.
¿Por qué el sobrenombre Graffit?
O Mestre
Russo desenhava com grafite, ele fazia caricatura. E na época eu era novo ainda e gostava de
fazer também. Por isso ele botou esse apelido. (NR: en referencia a la marca de
lápices y marcadores Graffit).
¿Cómo fueron tus comienzos?
Eu comecei a
fazer capoeira com doze para treze anos de idade.
¿Por recomendación de alguien o por
propio interés?
A primeira
vez que eu vi capoeira foi próximo ao meu bairro, lá na rua, mais era capoeira
regional. Eu vi e eu fiquei encantado com esse som do berimbau, com a
movimentação. E eu tinha uns amigos do bairro que já estavam praticando. Aí foi
quando a gente descobriu que tinha um mestre de capoeira lá, em nosso bairro. A
gente foi procurar ele. Então ele
começou a dar aulas para a gente e fundou o grupo Cosmos
(se refiere a Mestre Russo).
A gente
treinou com o mestre um ou dois anos antes de fundar o grupo, acho que foi em
1994. E o grupo foi fundado em 1996. Hoje eu estou no grupo Unificar com Mestre
Peixe.
¿Aquella capoeira que conociste guarda
similitudes con la capoeira como la conocemos hoy?
A capoeira de
quando eu começei ainda permanece em mim. Mas a
capoeira é mutante, ela está em constante mutação e aí que vai evoluindo, vai
mudando.
¿Qué buscabas entonces? ¿Qué aspectos
de este arte llamaron tu atención?
A gente
quando é criança começa pelo simples fato de brincar. Mas quando você começa a madurecer, já tem a
capoeira como ideologia de vida.
¿Y tu familia? ¿Cómo tomaron tu
decisión de practicar capoeira en esa época?
Em aquele
tempo era mais complicado (risas)...Eu era muito novinho e minha mãe tinha a maior preocupação. Meu pai,
nessa época já tinha falecido. Foi aí que eu procurei a capoeira. Aí me apeguei, na verdade...sim, depois da
morte do meu pai. Me apeguei muito na capoeira. E minha mãe tinha a maior
preocupação, porque ela começou a fazer a função de mãe e pai. Ela tinha medo
de eu estar fazendo luta, não sabia com quem era. No início meio que proibiu
fazê-la. “Não vai fazer, esse negócio é perigoso. Vai se machucar, você pode
cair, se quebrar”. Ela não queria, então eu comecei
a fazer escondido (risas). Para
essa época já tinha procurado o Mestre Russo. Nem ele sabia, nem minha mãe.
(risas) Até faltei na escola para ir
treinar capoeira. Minha mãe descobriu e aí foi a família toda procurar onde eu
estava treinando capoeira. Ela viu os meninos: viu o Gato, Cigano, o Moreno, a
turma que fazia capoeira comigo, saindo do treino, indo embora, e lhes
perguntaram. “Ele está lá na capoeira ainda, está vindo aí. ” Foi no meio do
caminho que eu me encontrei com minha família, que me falou: “você está
proibido de ir a partir de hoje. Você não vai mais. Só porque você escondeu
isso para a gente. Aí eu insisti, insisti, e continuei escondido (risas que
perduran).
Um dia não teve
mais jeito, e eu conversei com o Mestre Russo. Ele falou: “vamos lá, eu quero
conhecer a sua família, mostrar para eles que este é um ambiente familiar
também. Que não tem perigo nenhum. Então ele foi e conheceu minha mãe. Ela
simpatizou muito com ele, gostou muito. Assim
ela deixou eu participar. Mais tarde, até ela mesma participou nos eventos que
acontecia lá na casa de ele. Foi muito legal. (NR: los entrenamientos eran en la
casa del mestre, vivienda familiar y escuela de capoeira coincidían).
¿Cuál era el
barrio?
São José o
Parque São José. Duque de Caxias.
¿Escuchaste hablar de nuestro maestro
o del TMA?
Quando eu comecei
a treinar capoeira com o Mestre Russo ele preparava a gente para dar
continuidade a história da Roda de Caxias, ne. Aí ele sempre passou para a
gente quais eram as nossas referencias na capoeira, quem eram exatamente esses
mestres os que começaram essa história lá. Ele falava muito do Mestre Pedrinho,
do Mestre Rogério, do Mestre Jurandir e de todos os outros. A gente procurava
saber a história de cada um de esses mestres.
¿Qué habías escuchado puntualmente de
nuestro maestro, M. Pedrinho?
Ele não tinha
muito contato com o Mestre Russo. Eles se escreviam cartas. E o Mestre mostrava
para nós. Tudo mais.
O primeiro
contato que a gente teve com o Mestre Pedrinho foi direto na roda. Certa vez
que o Mestre estava chegando de viagem, eu acho. Essa história que eu já
contei...
Contala de
nuevo, no seas malo. Por favor.
Bom. Era um
dia que a gente estava na maior animação. Porque todos os mestres da Roda
tinham viajado e deixado a roda na nossa mão. E a gente era muito novo. Todos
garotos... E a gente muito feliz de ter essa responsabilidade... Só tinha
garotada, não tinha nenhum dos veteranos lá. E aí que chegou o Mestre Pedrinho,
todo alinhado, com chapeuzão (sombrero grande) na cabeça. Só que
ninguém conhecia ele. E de aqui a pouco ele deu um Iê!
No meio da roda. E falou: Já que ninguém me apresenta, eu vou me apresentar;
¡Sou o Mestre Pedrinho de Caxias e agora quem vai jogar sou eu!
A gente ficou
todo mundo “assim”, pensando, que vacilo... E aí foi muito legal, o mestre
jogou com toda a rapaziada, deu uma lição na gente e foi realmente muito
massa. Esse foi o primeiro contato com o Mestre. Foi muito legal que não teve
intervenção de mestre nenhum.
Volviendo a la práctica en los comienzos, ¿cómo era la Roda de Caxias
cuando la conociste?
Era
totalmente diferente dos dias de hoje. Naquela época era só veteranos, não
tinha ninguém da nossa idade. Eram só os mestres ou os caras bem antigos, com
30, 40 anos de capoeira. E a gente todos novinhos, com 15 anos de idade.
Quando a
gente começou a ir para a roda, íamos só para carregar os instrumentos, afina-los
e tocar para os mestres jogar, a gente nem jogava. Só assistíamos os mestres
jogando. No final da roda a gente levava os instrumentos para guardar. A gente
ficava nessa função de zelar pelos instrumentos. Hoje em dia, a gente já tem
uma relação de parceria com os mestres lá. Os mestres têm total confiança na
gente. Hoje eles falam que podem viajar tranquilos, sabendo que a gente toma
conta da roda. A relação é de confiança, de irmandade.
O que
amadureceu muito a minha visão com relação a capoeira hoje é (lembrar) a
relação que eles tinham, indiferentemente dos grupos onde eles estavam, eles
eram muito irmãos, um defendia ao outro. Eles podiam até brigar entre eles, mas
nunca admitiam que alguém de fora falasse mal de um deles. Eu achava isso muito
bonito. Eles sempre contavam histórias de quando começaram e falavam sempre com
muito orgulho.
¿Por qué
crees que tantos capoeiristas se han interesado por esta roda, especialmente los
angoleiros?
A roda de
Caxias é uma roda de rua. Ela nunca foi definida como de “Capoeira Angola” ou
“Regional”. Os mestres começaram sem essa proposta. Eles mesmos falam que nem
sabiam o que ia acontecer para frente, simplesmente resolveram tomar a
iniciativa de fazer a coisa acontecer. Inclusive o Mestre Angolinha certa vez
conversando com o Mestre Peixe... (aclara -em outra época, eu nem participava,
acho que eu nem era nascido ainda-). (Risas).
(Dijo Peixe) “Se
cada um de nós aqui fizer um aluno a roda de Caxias não vai morrer jamais”. É engraçado...
foi o que aconteceu. Hoje a roda de Caxias não é realizada pelo grupo Unificar,
nem pelo grupo Cosmos, nem pelo T.M.A., não é o grupo do Mestre Angolinha, não
é pela FICA, não é pelo Angola Dobrada. A roda acontece mas tem a participação
de todos esses alunos, de esses grupos que vieram de esses mestres.
Contramestre Serrote (T.M.A.) está lá, tem o Japa, que é um parceiro de muitos
anos lá. Dentro da roda é o cara que me apoia, ajuda muito com a roda. O Alder
que vem da FICA que treinou por sua vez com outros mestres que tiveram história
dentro da roda de Caxias e vários outros: o Célio (estre Urubu) que é de uma
geração bem antes da minha. Quando eu cheguei, ele já frequentava a roda há
muito tempo. Por sua vez os alunos dele também frequentam a roda...
¿Cómo la
caracterizarías entonces?
Eu vejo ela como
uma roda de Capoeira Angola porque é feita por angoleiros: todos os fundamentos
que tem dentro da roda de Capoeira são da Capoeira Angola. Só que ela não teve
essa definição porque veio da capoeira de rua. Mas tem todos os
fundamentos da Capoeira Angola…
En tu estilo actual de juego encontramos
elegancia y eficiencia. Queríamos preguntarte por la capoeira más antigua que
llegaste a conocer; ¿Poseía esas mismas cualidades?
Era bem mais
forte. Tinha a sua elegância mais nem tanto. Era mais cobrado mesmo, mais
marcial. Hoje em dia não. Até porque naquela época os capoeiristas tinham outra
visão. Muitos iam na roda de Caxias para tentar acabar com a roda. Eles tinham
todas as artimanhas para quebrar a onda dessa galera que chegava. Botava bastão
dentro do atabaque, facão...
Da época de
Arte e Feitiço. Quando a gente chegou, essa geração mais nova a roda já não
estava tanto assim. A galera já respeitava mais, a roda já tinha certa fama de
grandes capoeiristas e os capoeiristas iam lá dispostos a vadiar mesmo. De vez
em quando aparecia um ou outro com vontade de se testar. Aí sobrava para a
gente. Hoje é bem mais tranquilo. De vez em quando aparece alguma alma penada lá
- (Risas)-, com
a ideia de arrumar problema, mas aí a gente tira da roda e pronto.
¿Práctica de capoeira como vadiação y mundo laboral se pueden
conciliar?
Essa história
de conciliar trabalho com a capoeira e estudo hoje é bem mais tranquilo. Hoje a
gente consegue fazer isso. Mas isso é graças a esses mestres; eles fizeram
muito para a gente estar fazendo a capoeira como a gente faz. Se hoje eu viajo,
eu posso estar aqui com vocês, é graças a esses mestres que batalharam muito e
levaram o nome de Caxias pelo mundo. Na época de eles, nem todos tiveram as
mesmas oportunidades. Lá em Caxias era muito duro
sobreviver.
¿Pasó un tiempo hasta que pudiste
participar de la roda?
Como eu
falei, a gente no início só treinava. O mestre não deixava sair para as rodas.
Roda que a gente participava era dentro do grupo mesmo. Nós éramos bem
novinhos... “Vocês não estão preparados ainda não. Roda na rua não é fácil do
jeito que vocês estão pensando, não”. E aí a gente foi treinando, buscando;
começamos a ganhar a confiança dele; até que um dia o Mestre Russo falou:
“vamos para a rua. Vamos fazer capoeira na rua. ” E aí começou a levar a gente
para a Roda de Caxias e tal. Mas até então a gente não jogava, não podia jogar,
só tocava e assim, as coisas foram começando aos poucos: aprendendo a afinar o
berimbau do jeito que o Mestre Peixe queria, porque ele era o zelador da
bateria da roda de Caxias. E a gente ficava tomando orientação com ele. E aí a
gente foi amadurecendo, aos poucos conquistando a confiança do mestre, e o
mestre ia liberando a gente – “vá lá, joga lá”
(ejemplifica) E a gente ia, jogava um
pouquinho, tal, saia. Depois ele chamava de novo: “vai lá, joga com fulano”.
Ele foi vendo que a gente podia até que um dia chegou e falou assim: “Agora vou
ficar chamando vocês o tempo todo para jogar, vocês têm que ir. ” A gente
sentiu que ele já tinha liberado para jogar na roda. E automaticamente com isso
começaram as cobranças de responsabilidade e compromisso com a roda.
Quisiéramos preguntarte ahora por la
organización del evento “Roda Livre de
Caxias: 40 anos”, que se realizó en 2013 y del cual fuiste uno de sus
principales impulsores…
Na
organização ficou a Camila, o Guilherme, aluno do Mestre Célio e o Felipe,
aluno do Mestre Dois Cruzeiros do grupo Casarão e eu. A gente ficou direto
nessa organização antes do evento. Durante todo o evento teve vários outros
alunos de outros grupos que participaram, colaboraram, ajudaram muito.
¿Con cuánto tiempo de anticipación
debieron prepararlo?
Na verdade, a
ideia de fazer esse evento dos 40 Anos já tinha surgido com pouco mais de dois
anos antes. No evento do Grupo Angola Dobrada em Belo Horizonte. Estavam a
maioria dos mestres, todos reunidos e aí a gente já tinha conversado com eles
em particular. Mas dentro desse encontro foi que começamos a trabalhar no
projeto. Eu larguei meu trabalho por um ano; fiquei um ano só trabalhando em
isso junto a Camila na organização para o evento acontecer.
¿Por qué? ¿Qué era lo que había que
hacer?
Apoio,
espaço; como a gente ia a conseguir grana para movimentar um evento desse
porte, trazer os mestres. O evento já estava certo para acontecer, já tinha
data, aí a gente foi buscando apoio, parcerias com as instituições como
Prefeitura.
Quienes participaron quedaron muy
felices…
Muito, muito.
O rapaz que nos ajudou muito é subsecretario de Cultura de Caxias. Ele é super
envolvido com a cultura mesmo. Lá é um cara muito bacana, amigo meu e do mestre
Russo e de muita gente de lá de Caxias. A Prefeitura não passa verba para a
Cultura, lá e muito triste a gente ver isso. E, poxa, a roda de Caxias com o
peso que tem, a Secretaria de Cultura não deu apoio que fazia falta. Foi feito
com a resistência mesma dos capoeiristas.
Muchas
gracias por venir y compartir tu experiencia con nosotros. ¿Amateur o
profesional? ¿Qué crees que debe ser el capoeirista?
Professional
sim. Mas o dinheiro não pode estar no primeiro lugar. Eu acho que a gente tem
que dar valor a capoeira sim. A capoeira tem que ser uma coisa professional e
tem que ser valorizada. Isso tem que vir de cima, das instituições. Pois é a
cultura de um povo que sofreu muito.
Hoje o Estado
faz o comercial dela, divulga ela pelo mundo mais não dá o valor devido a ela. Entre
a gente a coisa tem que permanecer assim. Esse carinho, esse respeito um pelo
outro, essa coisa de família. Eu fiquei muito admirado com a relação de vocês
aqui; é muito parecido a que eu tenho lá com meus irmãos de capoeira. Só tenho
que agradecer vocês por estar aqui.•
Reportaje: Melina, Chino, Ginés, Luana y Pablo Saci.
Edición:
Luana y Pablo Saci.